Suporte respiratório não-invasivo na COVID-19

Suporte respiratório não-invasivo na COVID-19

23 de Setembro, 2022

Dr. Miguel Guia
Centro Hospitalar e Universitário Lisboa Norte

No passado congresso da ERS 2022 (4-6 setembro 2022), tive a oportunidade de moderar, em conjunto com a Dr.ª Claudia Crimi, uma sessão de pósteres subordinada ao tema “suporte respiratório não-invasivo na COVID-19”. Foram apresentados diversos pósteres, focando várias vertentes da abordagem da insuficiência respiratória na COVID-19.

A maioria dos estudos focou-se na importância do uso da ventilação não-invasiva (VNI) e de CPAP (aplicado por Helmet ou por interface oro-nasal) na prevenção de intubação oro-traqueal e ventilação mecânica invasiva (IOT-VMI), bem como a diminuir a mortalidade em doentes cujo teto terapêutico era suporte respiratório não-invasivo. Foram destacados também os benefícios da utilização de Oxigenoterapia de Alto Fluxo por cânula nasal. Muitos dos estudos também destacaram a importância da criação de Unidades de Cuidados Intermédios Respiratórios/Unidades de Suporte Respiratório Não-Invasivo, que permitiram aplicar de uma forma mais dedicada e eficaz as terapêuticas previamente referidas. Foram apresentados os protocolos dessas unidades, bem como feita uma descrição dos vários tipos de circuitos utilizados, que variavam consoante os países e o nível prévio de recursos que cada hospital detinha.

Um dos trabalhos apresentados focou-se nas potencialidades da ecografia torácica na titulação dos níveis de PEEP em doentes sob VNI ou CPAP. Um outro trabalho abordou a forma de suspender CPAP em doentes com suporte respiratório não-invasivo como teto terapêutico, dando especial destaque aos fármacos utilizados para controlar o desconforto respiratório (midazolam, morfina, levomeprozamina). Um dos estudos focou-se na possibilidade de alguns doentes sob pressão positiva na via aérea poderem desenvolver pneumomediastino e/ou pneumotórax, particularmente doentes com níveis mais elevados de LDH. Foi também apresentado um trabalho sobre a utilidade do lavado bronco-alveolar na abordagem destes doentes, nomeadamente na identificação de coinfecção bacteriana.

Dos vários trabalhos apresentados, pode-se concluir que o CPAP foi das formas de suporte respiratório não-invasivo mais utilizadas. Tal como se verificou em muitos centros em Portugal, esta e outras formas de suporte respiratório não-invasivo forma fundamentais no tratamento de um elevado número de doentes com insuficiência respiratória por COVID-19, facilitando a resposta dos Serviços de Saúde à pandemia. De facto, estas terapêuticas permitiram diminuir o número de doentes com necessidade de intubação IOT-VMI, aliviando a “pressão” sobre os Serviços de Medicina Intensiva. A criação/otimização de Unidades de Cuidados Intermédios Respiratórios tem sido fundamental para esta abordagem.