
Fatores associados com a falência de ventilação não-invasiva com pressão positiva numa Unidade de Cuidados Intermédios COVID-19
8 de Setembro, 2022
Poster: Fatores associados com a falência de ventilação não-invasiva com pressão positiva numa Unidade de Cuidados Intermédios COVID-19
No final de 2019, a COVID-19 surgiu como uma nova patologia infeciosa, com manifestações clínicas diversas, podendo incluir graus variáveis de insuficiência respiratória aguda. O uso de ventilação não invasiva com pressão positiva (VNIPP) em doentes com COVID-19 com hipoxemia refratária à oxigenoterapia convencional ainda é objeto de debate. Os objetivos deste estudo observacional retrospetivo, realizado no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), foram: avaliar a eficácia da VNIPP em doentes com COVID-19 internados na Unidade de Cuidados Intermédios dedicada à COVID-19; e avaliar os fatores associados à falência desta terapêutica.
Foram incluídos doentes com COVID-19 confirmado laboratorialmente por teste PCR de zaragatoa naso-orofaríngea, admitidos no período compreendido entre 1 de dezembro de 2020 até 28 de fevereiro de 2021 e tratados com VNIPP, que incluiu CPAP, HELMET-CPAP e Ventilação não-invasiva. Foram recolhidos vários dados a partir dos registos clínicos: informação demográfica e de comorbilidades, parâmetros de VNIPP, terapêutica médica e dados analíticos e radiológicos. O outcome primário do estudo foi a falência de VNIPP, definida como a ocorrência de intubação orotraqueal (IOT) ou morte durante a permanência hospitalar. Os fatores que se associaram significativamente com a falência de VNIPP foram incluídos numa análise de regressão logística univariável. Os fatores com nível de significância univariável de p<0.001 foram, posteriormente, selecionados e incluídos num modelo de regressão logística multivariável, com cálculo de odds ratio (OR) com intervalos de confiança (IC) a 95% para cada fator.
Relativamente aos resultados do estudo, foram incluídos 163 doentes, 64.4% do sexo masculino, com idade mediana de 66 anos. No total, 97 doentes (59.5% da amostra) foram tratados com sucesso com VNIPP. Quando excluídos da análise os doentes sem indicação para IOT em caso de agravamento clínico (45 doentes; 27.6% da amostra), observou-se uma taxa de sucesso da VNIPP de 77.1%. Considerando a totalidade da amostra, a falência de VNIPP foi objetivada em 66 doentes (40.5%): 40 doentes (60.6%) faleceram durante a permanência hospitalar e 26 (39.4%) foram submetidos a IOT. No que diz respeito aos resultados da análise de regressão logística multivariável, os fatores preditores de falência de VNIPP foram o valor mais elevado de concentração de Proteína C Reativa (PCR) durante a permanência hospitalar (OR 1,164; IC 95% 1,036-1,308), marcador de atividade inflamatória característica da COVID-19; e o uso de morfina na abordagem da dificuldade respiratória (OR 24,771; IC 95% 1,809-339,241), fármaco utilizado no alívio da dispneia, com possível redução da frequência respiratória, e potencial agravamento da insuficiência respiratória hipoxémica. Pelo contrário, os fatores preditores independentes de sucesso de VNIPP foram a adesão à posição de decúbito ventral (OR 0,109; IC 95% 0,017-0,700), por permitir a redução do mismatch< ventilação-perfusão; e o valor mais elevado de contagem plaquetar mínima (OR 0,977; IC 95% 0,960-0,994), provavelmente assoc/iado à menor tendência de disfunção hematológica secundária a quadros inflamatórios/infeciosos.
Na perspetiva dos autores, a VNIPP mantém-se como uma opção válida para tratamento na COVID-19 com insuficiência respiratória aguda refratária à oxigenoterapia convencional. São necessários mais estudos para complementar estes dados e que auxiliem a tomada de decisões no contexto clínico desta patologia.
Autores:
Inês Farinha, Serviço de Pneumologia, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, Portugal
Alexandra Cunha, Serviço de Pneumologia, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, Portugal
Ana Rita Nogueira, Serviço de Medicina Intensiva, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, Portugal
André Ribeiro, Serviço de Hematologia, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, Portugal
Carlos Silva, Serviço de Medicina Interna, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, Portugal
João Rua, Serviço de Medicina Intensiva, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, Portuga
João Trêpa, Serviço de Doenças Infeciosas, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, Portugal
José Eduardo Mateus - Serviço de Medicina Intensiva, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, Portugal
Filipa Costa - Serviço de Pneumologia, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, Portugal