Apneia obstrutiva do sono associada a um maior risco de cancro

Apneia obstrutiva do sono associada a um maior risco de cancro, declínio mental e aumento do risco de coágulos sanguíneos

5 de Setembro, 2022

Apneia obstrutiva do sono associada a um maior risco de cancro, declínio mental e aumento do risco de coágulos sanguíneos

Pessoas que sofrem de síndrome de apneia obstrutiva do sono (SAOS) têm um maior risco de aparecimento de cancro, de acordo com um grande estudo apresentado no segundo dia do ERS, em Barcelona. Um segundo estudo apresentado demonstrou que a SAOS está também relacionada a um declínio na capacidade de processamento mental dos idosos, de forma particular nos indivíduos com 74 anos ou mais. A existência de um maior risco de desenvolver coágulos sanguíneos nos doentes com SAOS mais severa foi a conclusão de um terceiro estudo também revelada hoje.

“Já sabíamos que os doentes com apneia obstrutiva do sono têm um risco aumentado de aparecimento de cancro, mas não está claro se isso se deve à própria SAOS ou a fatores de risco relacionados com o cancro, como obesidade, doença cardiometabólica e fatores do estilo de vida. As nossas descobertas mostram que a privação de oxigénio devido à SAOS está associada de forma independente ao cancro” referiu o Professor Andreas Palm, investigador da Universidade de Uppsala, na Suécia, na apresentação do primeiro estudo.

O investigador reforçou que “os resultados deste estudo destacam a necessidade de considerar a apneia do sono não tratada como um fator de risco para o cancro e os médicos devem estar cientes da possibilidade de cancro ao tratar pacientes com SAOS. No entanto, estender a triagem de cancro a todos os doentes com SAOS não é justificado ou recomendado pelos resultados deste nosso estudo”. O estudo não demonstra que a SAOS causa cancro, apenas que está associada a esta patologia. Alguns fatores importantes do estilo de vida, como atividade física e hábitos alimentares, não foram considerados individualmente no estudo. A principal força do estudo é a sua dimensão (62 811 doentes) e a alta qualidade dos dados sobre diagnóstico de cancro e SAOS.

Numa segunda apresentação, o Professor Raphaël Heinzer, diretor do Centre for Investigation and Research on Sleep da Universidade de Lausanne, na Suíça, afirmou que o estudo conduzido pelo seu colega, o Dr. Nicola Marchi, demostrou que a SAOS está relacionada a um maior declínio na capacidade de processamento mental num período de cinco anos. “Este estudo demonstra que a gravidade da apneia do sono e a privação noturna de oxigénio contribuem para o declínio cognitivo na velhice. Também mostra que a apneia do sono está relacionada a um declínio de funções cognitivas específicas, como a velocidade de processamento e a memória verbal, mas não a um declínio em todas as funções cognitivas; por exemplo, a linguagem e a perceção espacial não foram afetadas”, disse o Dr. Marchi.

Um terceiro estudo, apresentado pelo professor Wojciech Trzepizur, do Hospital Universitário de Angers, França, mostrou que os doentes com SAOS mais grave, medida pelo índice de apneia/hipopneia e por marcadores de privação noturna de oxigénio, tinham uma maior probabilidade de desenvolver tromboembolismo venoso (TEV). Dos 7355 doentes acompanhados por mais de seis anos, 104 desenvolveram TEV. “Este é o primeiro estudo a investigar a associação entre a apneia obstrutiva do sono e a incidência de tromboembolismo venoso não provocado. Descobrimos que aqueles que passavam mais de 6% da noite com níveis de oxigénio no sangue abaixo de 90% do normal tinham um risco quase duas vezes maior de desenvolver TEVs em comparação com doentes sem privação de oxigénio”, disse o Professor Trzepizur. “São necessários mais estudos para ver se o tratamento adequado para a SAOS, por exemplo, com CPAP, pode reduzir o risco de TEV em doentes com privação noturna de oxigénio acentuada”.